Parece um assunto irrelevante, e é. Afinal, que diferença faz o fato
de uma música ter o nome de Lennon ou de McCartney em primeiro lugar?
Mas a verdade é que esse assunto já provocou discordância e já causou
aborrecimento a Paul McCartney. É sabido que havia um acordo verbal na
dupla de compositores mais geniais de todos os tempos: independente de
quem compusesse uma canção, ela seria igualmente creditada aos dois. E
assim permaneceu até o fim dos Beatles.
A primeira música gravada com créditos para a dupla
Lennon/McCartney
foi “You’ll Be Mine”, de 1960, mas 3 anos antes, já haviam duas músicas
(até então não gravadas ou registradas) da dupla: “Hello Little Girl” e
“One After 909” (a primeira gravada no teste para a gravadora Decca, a
segunda em uma das primeiras sessões já na EMI, mas só gravada e lançada
definitivamente no álbum
Let It Be, em 1970). Todas elas, no entanto, só se tornaram de fato ‘músicas dos Beatles’ nos anos 90, quando saiu a coletânea
The Beatles Anthology.
Em se tratando de músicas dos Beatles de fato, ou seja, aquelas
gravadas e lançadas por John, Paul, George e Ringo, a primeira creditada
à marca Lennon/McCartney foi “Love Me Do”, em 1962, o primeiro single
dos Beatles. Já no ano seguinte, “Please Please Me” e “From Me To You”
foram creditadas como
McCartney/Lennon. No ano
seguinte, 1963, volta a ordem original e o single “She Loves You” volta a
ser creditado como Lennon/McCartney, ordem seguida por todos os singles
que viriam a ser lançados – sendo que no LP
Please Please Me, as músicas aparecem como sendo de McCartney/Lennon.
Só após o fim dos Beatles, essa ordem com o nome de Lennon na frente
realmente passou a incomodar o parceiro McCartney: em 1976, no
lançamento do álbum ao vivo
Wings Over America, as 5 músicas dos Beatles aparecem com a marca autoral McCartney/Lennon.
Enquanto John Lennon estava vivo, nunca houve qualquer tipo de
conversa sobre a inversão dessa ordem, porém, após sua morte, Paul
McCartney e a viúva Yoko Ono tiveram discordâncias sobre o assunto,
quando McCartney, em algumas ocasiões, solicitou autorização para,
oficialmente, creditar com seu nome na frente aquelas músicas que fossem
prioritariamente criadas por ele, principalmente a mais conhecida,
“Yesterday”. Yoko sempre se opôs à idéia, argumentando que não se muda a
história, por isso a ordem deveria permanecer como já estava conhecida:
Lennon/McCartney.
Paul McCartney, provavelmente numa tentativa de dispersar a polêmica
em torno do caso, declarou: “Estou muito feliz com o jeito que as coisas
são e sempre foram. Lennon/McCartney é uma marca forte no Rock’n’roll e
tenho muito orgulho de fazer parte disso – na ordem que sempre foi”. No
entanto, em lançamentos posteriores, algumas músicas dos Beatles aparecem como McCartney/Lennon – aparentemente sem a preocupação de solicitar de autorizações.
Curiosidade: no Brasil há duas marcas similares a essa parceria:
Raul Seixas/Paulo Coelho e, claro,
Roberto Carlos/Erasmo Carlos.
Na primeira não há registros sobre discordâncias na ordem dos nomes.
Quanto à segunda, no livro Roberto Carlos em Detalhes há uma breve
narrativa sobre quando a ordem foi criada, sempre com Roberto na frente,
mas segundo consta o parceiro Erasmo sempre achou uma grande vantagem
ser o segundo nome. Para ele, o nome falado por último é o que fica mais
gravado na cabeça da pessoa.
Voltando aos Beatles, o que todo fã concorda é que pouco importa a
ordem dos nomes, e sim a qualidade dessas composições, e nisso, elas são
inalcançáveis – e continuarão sendo.