Paul no Mineirão - Por André Katz


Esse ano, ao mesmo tempo que pra mim (como artista) foi um ano de muitas conquistas, foi um ano de prejuízo, no qual pôs em definitivo que eu não iria ver McCartney aqui em BH. Mas a sorte me sorriu pela terceira vez. O Jornal Estado de Minas estava fazendo um concurso no qual o participante tinha que gravar um vídeo de um minuto com uma música do Paul com Wings ou com os Beatles. 10 felizardos teriam o privilégio de encontrar com o cara pessoalmente (a promoção dizia que os escolhidos iam bater uma selfie com ele, mas até agora nenhum dos felizardos mostrou a foto, então não se sabe se a foto aconteceu ou não. Todos juntos tiveram um total de 2 minutos com Paul). Como já é de praxe, eu sou um azarão com sorteios, mas a amiga Rafa Arruda me informou que todos que não ganhassem, mas tivessem participado, ganhariam um ingresso para assistir na cadeira amarela inferior, portanto, lá estava eu pra assistir o Sir James mais uma vez. Creio que a maioria dos que ganharam o ingresso não foram retirar o mesmo, pois reconheci poucos que candidataram nas cadeiras, a maioria estava na fila da pista premium.

Apesar de ser mais tranquilo para entrar, cheguei razoavelmente cedo ao estádio (15h30), mas meu amigo João de Deus Filho tinha chegado às 8h30 e foi um dos primeiros a entrar no estádio. Encontrei com vários colegas do meio beatlemaniaco ainda nas filas, como Euller Faccio (se ele cantasse seria um sósia idêntico ao Paul na fase atual), as garotas do 'Paul vem falar uai', Guilherme Lentz e Marcelo Thomé (Banda Anthology).

O sol (como da primeira vez em BH ) estava escaldante, todo mundo praticamente usando os guarda chuvas e turbantes improvisados, mas o castigo durou pouco: as portas do estádio abriram as 16h45 e às 17h20 todo mundo já estava passando pelas catracas rumo a seus lugares. Nesse meio, como é comum, você acaba conhecendo outros fãs do velho Macca, e fui muito feliz em conhecer o casal Talmer e Cris, de Belo Horizonte mesmo, que finalmente estavam tendo o privilégio de ver um big show e (depois de 27 anos de tentativas) um show de um ex Beatle. Compraram o ingresso "aos 45 do segundo tempo" quando veio a sorte de alguns ingressos baixarem de preço. A felicidade deles estava contagiante! Acabou que fiquei sentado junto com eles em um local que achei perfeito, pois não teria nenhuma cabeça ou celular na frente.

Lá dentro, mais algumas figuras que conheço da cena em BH foram aparecendo, como Rodrigo Garcia (o guitarrista da Orquestra de Ouro Preto), Bruno Vilaça (produtor de casas de shows na cidade), Zé Alberto (ex Sgt Pepper) e vários motociclistas que vieram de colete, o que achei muito admirável (PGM, Renegades e Bulldogs).

Não fui o único a conseguir entrar no estádio com alguma ajuda. Lá dentro haviam dois amigos meus que  pertencem a empresa Projecta, que cuidou das outras estruturas metálicas que estavam no estádio. Graças a isso tinham passe livre em todos os locais, exceto os camarins. Mas puderam ver, por exemplo, o hotsound. Leandro Oliveira (Zói), foi outro que estava em pura felicidade. Ele nunca foi um fã de Beatles, mas quando surgiu um interesse meu na última coletânea de Paul (Pure McCartney), ele arrumou a versão em vinil pra mim com a condição que eu passasse pra ele o direito de baixar o cartão que dá direito a baixar a versão em MP3, o fã de Ramones e Misfists agora tinha um novo espaço para o cara de Liverpool. Ele também (para completar) tinha sido presenteado com um ingresso de pista e foi curtir mais de perto o show.

Não houve um show de abertura como em Porto Alegre (apesar de ter rolado uma tentativa por parte de uma empresa, mas a oportunidade foi descartada pela equipe do Paul), mas primeiro rolou versões originais desaceleradas (não no tom, mas na velocidade ) de alguns clássicos como Penny Lane, Ticket to Ride e Dance Tonight (as 3 que consegui reconhecer). Lá pra 20h30 entra no palco o Dj oficial que vem abrindo os shows de Paul desde a ultima passagem pelo Brasil. O diferente foi que, dessa vez, é que ele e seu equipamento uma hora surgiam em cada ponto do palco como por mágica. 21h05 começa a introdução do show num estilo de slide com muitas montagens de fotos e alguns trechos interessantes de vídeos raros, mas quase todas as músicas ainda dos Beatles, só que em um estilo "dance".

Quase às 21h30, o video ainda passando, e começa uma vaia acima das nossas cabeças: na cadeira superior amarela começa um bate boca, empurra-empurra e não sei se rolou a porrada em si, mas é fato que não havia seguranças na parte do alto e a confusão durou uns 3 minutos até que tudo se ajustasse. Fato é que lá em cima estava superlotado, imagino que até um pouco mais do que o numero de cadeiras permitidas no local. 21h42 chega o momento e "A day in the life" começa a subir nas orquestras e surge como um sol o Hofner soltando raios nos telões... e surge McCartney e banda no palco para inicio do espetáculo!

Uma coisa interessante a se falar antes disso: havia muita notícia de que havia muito ingresso a ser vendido para o show de BH e que poderia ser um show mais vazio, mas na hora que Paul e Banda chegaram no palco, o estádio estava completamente lotado em todos os locais.

Segue o repertório com exatidão:
- “A Hard Day’s Night”*

- “Save Us (achei sensacional essa música logo de cara, ainda vai se tornar um clássico, eu acredito)
OI BEAGA, BOA NOITE GENTE! Tudo BEM?

-  “Can’t Buy Me Love”*

- Thank you , obrigado, vou tentar falar um pouco de português

- “Letting Go”*

- Valeu, sô! It's great to be back in Belo Horizonte, é bom estar de volta!

- "Drive my car"

- BEAGA!

-  “Let Me Roll It” (com “Foxy Lady”, de Jimi Hendrix)


- “I’ve Got a Feeling” (com uma jam bem interessante no fim, puxada do nada e terminando do nada também)

- “My Valentine” (dedicada à sua esposa Nancy)

- “Nineteen Hundred and Eighty-Five” (dedicada aos fãs dos wings)

- “Maybe I’m Amazed” (dedicada a Linda, contou no meio da apresentação com um pequeno filme caseiro com a foto que consta na traseira da capa de seu primeiro disco, McCartney)

- "I've just seen a face"

- “In Spite of All the Danger” (de repente surge uma casa de pântano, tipicamente sulista americana, um espetáculo)

- “You Won’t See Me” (uma grande novidade que emocionou a muitos)

- “Love Me Do” (dedicada a George Martin)

- “And I Love Her” (com direito a reboladinha no fim)

- “Blackbird” (dedicada aos direitos humanos)

- “Here Today” (dedicada a John)

- “Queenie Eye”

- “New”

- “Lady Madonna” (que começou com uma brincadeira puxada por Paul ao piano que parou abruptamente e começou a canção)

- “FourFiveSeconds”

- “Eleanor Rigby”

- “I Wanna Be Your Man” (ele falou que ia tocar uma canção dos Rolling Stones)

- “Being for the Benefit of Mr. Kite!”

- “Something”(dedicada a Harrison, que dessa vez contou com uma imagem interessante quase no fim de uma foto de Paul e George bem no estilo 1981)

- "A day in the life/give peace a chance"

- “Ob-La-Di, Ob-La-Da”

- “Band on the Run” (que o publico cantou do inicio ao fim)

- “Back in the U.S.S.R.”

- “Let It Be” (e seu espetáculo de luzes de celular, imagino que o isqueiro deve doer bastante e a praticidade do aparelho melhorou as coisas hehehe)

- “Live and Let Die”
- “Hey Jude”

BIS
- “Yesterday”

- “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)”*

- "Helter Skelter"

- BEaga BEAGA

- "Birthday" (que não foi tocada até então no repertório no Brasil esse ano, mas surgiu devido a um cartaz dizendo "the it's my birthday too" que foi prontamente atendido)

- We gonna say "obrigado a vocês"

- “Golden Slumbers”/”Carry That Weight”/”The End”.

Depois desse momento é jogado um bichinho de pelúcia de um personagem do seriado Pickachu no palco. Paul o recolhe e leva ele embora, depois de agradecer e dizer "Obrigado e até a próxima".

Foi um show que pude realmente curtir, olhar detalhes. Uma das coisas que me chamou muito a atenção foi os olhares do Paul. Dá pra perceber que ele fica observando as pessoas, a reação de todas as que ele pode ver o mais rápido possível pra saber se tá tudo dando certo. Tá aí um cara que se preocupa ainda hoje, Ponto!

A Partir daí eu precisava falar com as pessoas para saber o que as mesmas tinham achado show para que essa matéria aqui não fosse só um relato meu, então fui atrás de todas as pessoas que podiam falar comigo antes de saírem desesperadas para casa.

Primeiro fui falar com o Segurança que mantinha o povo da cadeira inferior longe do acesso a pista. Ele passou uns maus bocados com algumas pessoas que ofereciam grana pra deixar passar para a pista, mas ele não deixou. Chegou a cogitar antes do show que seria melhor ele ter ficado na bilheteria, mas ele mesmo falou no fim que se arrependeria amargamente se tivesse feito isso, pois não era um grande fã de McCartney, mas a partir daquele momento, ele iria dar mais atenção ao show dele. Mais um convertido, heheh.

Pablo Castro, ex musico cover de Beatles em BH que agora está trabalhando com Lô Borges também parou para dar umas palavras: "Incrível, extraordinário! Impressionado com a capacidade dele cantar tudo com exatidão e no mesmo tom apesar da idade de 75 anos. A coisa é que o repertório dele é tão vasto que a gente sempre sente falta de alguma coisa (principalmente grandes hits dos anos 80), mas temos que pensar também nas outras pessoas que estão aqui pela primeira vez para vê-lo e sentiriam falta de alguma ou outra canção bem famosa. Ele com certeza é um cara que é um dos maiores seres vivos que já passaram pela terra e com a maior felicidade ainda está aqui entre nós e na ativa! Gostaria muito que ele voltasse (o que pareceu bem convicto da parte dele e que acredito que aconteça em menos de 3 anos), mas que antes ele tivesse a oportunidade de conhecer pessoas que seguiram o ensinamento do que ele passou sozinho e junto com os Beatles. Ele deveria conhecer pessoalmente os músicos do Clube da Esquina. Eu faria um movimento para que isso acontecesse".

Lucas Jacovini, músico, afirmou que quando soube que Paul viria de novo, adiou as economias para uma viagem internacional para finalmente ver o ídolo em casa, e, segundo ele, valeu a pena.

A opinião geral foi: "Você tá vendo algo irreal, você tá vendo um Beatle, um cara que criou e ajudou a criar tudo aquilo ali, e muito mais coisas". "Eu vi um alien, não é possível" disse um dos fãs admirados.

Getulio e Ruy, membros de um dos ex grandes fã clubes de BH Abbey Road Beatles Club, não pouparam a emoção: "Ele consegue surpreender, ele tá muito jovial, a mudança no repertório muito me supreendeu. Mais uma vez Paul trouxe pra gente o que a gente esperava, e também muitas vezes surpreendeu, pra gente é muito bacana estar no mesmo local aonde está o cara que a gente viu lançando praticamente tudo na hora, fica um pouco sem acreditar, mas aí você esfrega os olhos, seca as lágrimas, e percebe que não é só um sonho, é um sonho que se tornou realidade".

E todos tem muita razão. Paul esteve entre nós, fez um momento incrível no dia que completou 60 anos de sua primeira apresentação com o Quarrymen e não deixou nada a dever. A dívida tá paga, ele não falou "Uai", mas "Valeu sô!". Volta logo, por favor!