Wonderwall, um filme que tem tudo a ver com os Beatles


Por ser um filme difícil de se encontrar, podendo ser considerado até certo ponto raro, poucos conhecem em quanto a áurea ‘Beatle’ esta presente em Wonderwall. Lançado originalmente em 1969, disponível no mercado em DVD desde a virada do século, Wonderwall, embora seja mais conhecido pela sua trilha sonora escrita e gravada por George Harrison, é um daqueles filmes que reflete bem o seu tempo, neste caso, Londres durante o chamado ‘Swinging Sixties’.

O enredo do filme é relativamente simples contando a história de um cientista atrapalhado e esquecido que anda sempre com uma lista de lembretes no bolso. Seu nome é Professor Oscar Collins e ele é um personagem tão desorganizado, que se não conferir antes em sua lista, é capaz de esquecer de tirar as meias antes de molhar os pés.

Este homem tem sua rotina então atrapalhada pela vizinha, que ele não conhece, mas vê através de um buraco que ele descobre em sua parede que dá para o apartamento ao lado. Ele apaixona-se platonicamente pela menina, uma modelo vistosa que ocasionalmente recebe o namorado, que também é modelo. O professor e a modelo nunca conversam e ele só a vê através do buraco ou em seus sonhos. Este detalhe oferece ao espectador alguns ângulos e imagens interessantes em devaneio hippie.

Voltando ao assunto original deste texto, a razão que trago para a sua atenção Wonderwall é porque o filme apresenta ocasionais lembretes de uma presença Beatle na obra. De fato, além de compor a trilha sonora, George Harrison também é creditado com produção executiva, o que em outras palavras significa que ele entrou com parte do dinheiro para o orçamento do filme. Assim, explica-se, embora não diminua a surpresa, encontrar pequenos detalhes durante o filme que sugerem referencias aos Beatles.

A primeira a se observar seria o fato de que as únicas cenas em que se vê os personagens comendo, estão comendo maçãs. Logo em uma das primeiras cenas externas, vemos o bom professor descendo a rua com um saco de maças verdes. Um carro desce a rua, todo pintado de verde claro, com o estofado do carro em verde maça. O veículo passa por uma micro ônibus estacionado que a primeira vista, lembra o ônibus usado no Magical Mystery Tour, mas não é. Em letras vermelhas, lê-se na traseira do ônibus o nome da transportadora Beales Travel.

Dentro do carro passamos a conhecer o fotógrafo e o namorado da menina. O fotógrafo está de terno e calças verdes maçã, mesma cor do estofado e do carro. O modelo, embora vestido de roupas comum para época, está trazendo consigo uma foto aumentada em preto e branco no banco de trás que mais parece sobra da capa do Sgt. Pepper's. Não é, claro! A foto parece ser dele mesmo, contudo, outras fotos de atrizes espalhadas pelo apartamento, todas em preto e branco, trás novamente a capa do Sgt. Pepper's à memória.

Outro elo com a turma dos Beatles está nos desenhos que aparecem durante o filme, todos feitos pelo grupo holandês The Fool, os mesmos que trabalharam na Apple Boutique, como também na empresa Apple Corp. Três membros do The Fool também contribuem com a presença física sendo vistos no filme durante uma festa realizada no apartamento. Porém, a mais evidente demonstração de que há um elo intencional entre este filme e os Beatles está no nome da modelo, o personagem central do enredo. Embora ela não tenha uma fala sequer durante todo o filme, é ela o motivo de toda a história. O seu nome é Penny Lane.

Embora não esteja registrado entre os créditos, do disco ou filme, existem ainda mais algumas curiosidades para se mencionar. Em sua trilha sonora, a guitarra sendo tocada em "Ski-ing And Gat Kirwani" é ninguém menos que Eric Clapton. Outro amigo presente na trilha é Ravi Shankar na citara.

A última surpresa fica por conta de uma pequena cena despretensiosa no filme. Nela, o bom professor está fazendo hora ouvindo uma propaganda no rádio enquanto espera a vizinha chegar em casa. O comercial oferece duas jovens conversando entre si sobre o prazer de se usar certo produto à base de lanolina. Em momento algum identifica-se qual o produto sendo promovido, porém o texto da propaganda é sutilmente insinuante, permitindo mais de uma interpretação. A surpresa é que todo o texto deste comercial foi escrito por John Lennon.

O DVD, que saiu no mercado em 1999, oferece o chamado ‘Director’s Cut’ que significa na prática que o diretor mexeu em alguns detalhes na obra original. A mudança mais evidente está na abertura, que teve a musica "Microbes" substituída por outra da banda, The Remo Four. O DVD inclui como material extra a abertura com a musica original, o texto de John tratado como poema, algumas edições feitas com imagens do ator Jack MacGowran, que faz o professor, como também um pequeno clipe com "Ski-ing And Gat Kirwani".

O DVD também oferece um curta metragem chamado "Reflections On Love" que tem imagens diversas de Londres em ’68 com trilha sonora da banda Kula Shanker. Entre as imagens apresentadas encontra-se também cenas com os Beatles em ’65. Entre os atores da historinha que fala de um casal prestes a casar, temos Jenny Boyd, modelo e irmã de Patty Harrison.

As imagens tiveram um tratamento de limpeza trazendo à vida todo o colorido que antes estava desbotado. O trailer do filme, incluindo no pacote, não teve tal tratamento, servindo como exemplo claro da diferença entre o que se via e o que agora pode-se ver das imagens. Não posso deixar de mencionar também que a musica do filme é linda! Aproveito para lembrar que existem alguns temas na trilha sonora que não estão no disco.

Como podem perceber, para qualquer Beatlemaniaco, este DVD é extremamente interessante e altamente recomendável. E mesmo para os não Beatle fanáticos, mas que gostam e se interessam por material da época, este filme é mesmo um pequeno tesouro!