Hey Jude: Um espetáculo de Beatles e de amor



Fui à apresentação da Hey Jude esperando ver mais do que um show. Só sairia satisfeito se visse um espetáculo mais do que musical.

O que se espera de diferente em uma apresentação dessas é a capacidade deles de reproduzir da forma mais fiel possível o que seria um show da maior banda de todos os tempos. Instrumentos, figurinos, timbres de vozes e trejeitos físicos que incluem um destro interpretando Paul McCartney como canhoto. E, o mais esperado, uma orquestra que tocasse nota por nota as músicas das fases finais dos Beatles.

Mas o impressionante foi que eles conseguiram muito mais do que só colocar no palco uma reprodução dos Fab Four. Eles conseguiram colocar também na plateia um show dos Beatles.

O pessoal foi aos berros quando os quatro surgiram com os terninhos das primeiras turnês das banda. Rimos das conversas e piadinhas em inglês britânico dos amigos John Lennon e Paul McCartney entre uma conversa e outra. Aplaudimos quando Ringo se apresentou para tocar “Boys”. E também tivemos a sensação de que o próprio George Harrison chamava com seu sotaque de Liverpool o jovem Paul para cantar sozinho sua “nova” canção que levava acompanhamento de cordas, chamada “Yesterday”.

Ainda na fase dos terninhos, uma apresentação de sitar já preparou a plateia para a nova fase que estava por vir. Mas não antes de o público ficar de pé para curtir as músicas mais dançantes, como “Roll Over Beethoven” e “Twist and Shout”.

O show não para nem quando os quatro beatles faziam suas trocas de figurino. A orquestra reproduzia as faixas instrumentais do álbum Yellow Submarine e, além disso, a voz e habilidade musical do maestro surpreendiam a plateia com interpretações de canções das carreiras solo de Paul e John, como “My Love” e “Imagine”.

De volta ao palco com os uniformes de Sgt. Pepper’s, uma interpretação para paralisar a plateia; algo que muito provavelmente ninguém nunca tinha visto: uma apresentação ao vivo de “Tomorrow Never Knows”. Era certamente o momento que todo mundo esperava. Todos estavam ali para ver o espetáculo com orquestra que nenhuma outra banda por aqui é capaz de fazer igual. Daí em diante foi psicodelia pura com efeitos visuais e de luzes de todas as cores.

Na sequência veio a parte do show que marcaria a despedida da banda. Uma reprodução da fase mais sóbria, mas não menos emocionante dos Beatles, com canções do Álbum Branco, Abbey Road e Let It Be.

Não queria que o show acabasse. E justamente no fim aconteceu o que vi de mais bonito na noite. A Hey Jude encerrava o espetáculo com a música que dá nome à banda. E então, durante os momentos de “Na na na”, resolvi olhar para trás. Foi aí que vi uma plateia toda de pé e sorridente, certamente curtindo tanto aquele momento quanto eu. Eram pais e filhos, avós, casais de todas as idades, amigos... Todos juntos cantando com força um sentimento que não sabemos dar nome, mas que decidimos que manifestaríamos como “Na na na”.

E esse se tornou para mim o grande feito da Hey Jude: um espetáculo entre banda e público que celebrou todas as formas de amor.

Ricardo Gouveia 
Fotos: Rosana Estevam