Arabelle Calciolari, a professora premiada com um projeto sobre os Beatles


A professora de Jundiaí, Arabelle Calciolari, docente da EMEB Maria Angélica Lourençon, foi premiada como uma das 10 vencedoras do maior e mais importante prêmio da educação básica brasileira, o Prêmio Educador Nota 10. Seu trabalho, sobre os Beatles para a disciplina de inglês, foi reconhecido durante premiação, na noite da segunda-feira (30 de setembro de 2019), em São Paulo.

O Educador Nota 10 é o maior prêmio da educação brasileira, existe há 22 anos e é realizado pelos grupos Globo, Abril e as fundações Victor Civita e Roberto Marinho. No total, foram mais de 4 mil projetos inscritos e, ao final, apenas dez foram selecionados para concorrer ao prêmio Educador do Ano, incluindo o projeto da professora de Arabelle.

“Todos que chegaram até aqui são vencedores, pela iniciativa de propor projetos importantes para as cidades, que colaboram para a melhor educação das crianças, jovens ou adultos. Estou feliz por ter participado e colocado a Educação de Jundiaí no cenário nacional”, comentou a educadora Arabelle Calciolari.

A selecionadora do projeto de Arabelle, Laura Meloni Nassar, que atua no Prêmio desde 2014, destaca a inovação da jundiaiense.

“A professora Arabelle conseguiu realizar um projeto nada convencional e com uma sequência didática fantástica, unindo o ensino da língua inglesa com história e o contexto histórico, a partir de letras das músicas, vídeos e reportagens”, explica.

A premiação foi apresentada pela jornalista Sandra Annenberg e o ator Thiago Lacerda e teve como vencedora o projeto “Aprender e Compartilhar”, da gestora escolar-coordenadora pedagógica em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, Joice Lamb.

A escolha do púbico foi pelo projeto de Patrícia Barreto, de língua portuguesa, destinado ao ensino médio com o título “Argument(Ação): Protagonismo”.




O projeto

Ela conquistou o prêmio por conta do seu projeto de Língua Estrangeira, ‘Os Beatles – seu tempo e sua história’, trabalhado com os alunos do 4º ano do Ensino Fundamental I, onde ela colocou em prática o ensino da língua inglesa aliado com outros conceitos, priorizando a exposição dos alunos à língua e ao universo cultural e social que permeia as obras musicais dos Beatles.

Durante o projeto, já realizado com três turmas diferentes, Arabelle apresenta oito canções da célebre banda inglesa, cada uma por meio de um exercício de listening diferente, variando as estratégias. As letras, sem tradução na hora do exercício, ocasionam debates sobre o que as crianças entenderam, construindo a compreensão de maneira coletiva.

Por meio dele, ela quis, mais do que trabalhar a língua inglesa, levar para a sala de aula a história de cada composição, informações sobre o contexto das décadas de 1960 e 1970 e o engajamento político que a banda adotou na época. Assim, a turma entra em contato com questões como a segregação racial e a guerra do Vietnã.

O projeto inicia sempre com duas músicas fixas: Hello Goodbye e Blackbird. Depois, Arabelle mostra alguns videoclipes da banda para os alunos que, entre eles, escolhem a música que querem trabalhar.

“Cada turma se encanta com uma música. E o legal do projeto é isso: há uma grande participação dos meus alunos. Essa conquista não é só minha, é deles também”, afirma a educadora.

Para ela, mais do que trabalhar a língua inglesa, o intuito é trabalhar questões sociais, fazendo com que as crianças reflitam sobre o mundo em que estão inseridas.

“Meu objetivo é tirar eles da zona de conforto, para fazer com que pensem e reflitam sobre o que a gente já viveu e estamos vivendo. Para que eles saibam que, se eles têm certas liberdades hoje, é porque no passado pessoas lutaram para que esses direitos fossem garantidos”, continua.

A música Blackbird, por exemplo, sucesso dos Beatles em 1968, é inspirada no Movimento dos Direitos Civis dos Negros nos Estados Unidos. Na composição, a mensagem de Paul é “mantenha sua fã, existe esperança” em meio a opressão da época. E, como uma das músicas fixas trabalhadas pela professora Arabelle dentro do projeto, a canção permeia uma série de discussões em sala de aula sobre a questão racial.

“Eu sempre tento, dentro dos meus projetos em sala de aula, falar sobre essas questões. Dentro dessa música, tento mostrar que os Beatles viam o que acontecia no mundo e que essa música foi uma forma da banda de se posicionar contra a segregação. Dentro disso, abordo nomes importantes, como Martin Luther King, por exemplo”, finaliza Arabelle, uma das 10 educadoras de destaque em todo o Brasil.

Fonte: Tribuna de Jundiaí