Quando Laurie Kaye entrou no The Dakota em 8 de dezembro de 1980, pensou que seria a entrevista da sua carreira: uma conversa tranquila com John Lennon sobre a vida, o amor e a música. Ela havia sido instruída a não mencionar os Beatles, a não reviver velhas memórias. O foco, disseram, deveria estar no presente: em Double Fantasy, em sua nova energia, na alegria que ele havia reencontrado na família e na criatividade.
Mas, quando o gravador ligou, o próprio John quebrou essa regra. Sua voz era calma, pensativa, um pouco brincalhona. Ele falou de Paul, de Yoko, do passado do qual tentou escapar. Falou sobre como os Beatles tinham sido uma bênção e um fardo — como o barulho, a fama, as turnês intermináveis haviam engolido grande parte de sua vida. No entanto, não havia amargura em suas palavras, apenas paz. Ele não estava mais fugindo do passado. Estava aprendendo a fazer as pazes com ele, a incorporá-lo suavemente à pessoa que ele havia se tornado. Pela primeira vez em anos, ele parecia livre.
Laurie não poderia imaginar que esta seria sua última entrevista — a última vez que John Lennon compartilharia sua voz com o mundo. Poucas horas depois, sua vida mudou para sempre. A notícia do assassinato dele se espalhou pela noite como um incêndio.
Repórteres ligaram, emissoras imploraram e, antes mesmo que o choque passasse, Laurie estava sendo levada às pressas para os estúdios, com o rosto pálido e os olhos pesados de descrença. Ela não havia dormido. Ainda conseguia ver a dor de Yoko no hospital. No entanto, lá estava ela, sentada sob as luzes brilhantes do Today Show, tentando encontrar palavras quando seu coração mal conseguia entender o que havia acontecido.
Em uma noite, ela passou de entrevistadora a testemunha, de capturar as reflexões de um homem sobre a vida a falar sobre sua morte. Essa mudança insuportável ainda a assombrava por anos. O que ela mais se lembrava não era de sua fama ou lenda, mas de seu calor. O jeito como ele ria com Yoko, o jeito como seus olhos se suavizavam quando falava de Sean, o jeito como ele falava sobre recomeçar, como se realmente acreditasse que ainda havia muito tempo pela frente.
A história de Laurie Kaye não é apenas sobre tragédia. É sobre a fragilidade dos momentos — como uma única conversa pode se tornar uma despedida, como uma voz que preencheu o mundo pode ser silenciada em um instante, mas ainda ecoar por gerações. Naquele dia de inverno em Nova York, John Lennon não apenas gravou suas últimas palavras. Ele deixou para trás uma lembrança do que finalmente havia encontrado: paz, amor e a beleza silenciosa de estar vivo.












