Beatles: a pirataria ajuda ou atrapalha?


Por José Carlos Almeida

Os Beatles são os artistas mais famosos e bem sucedidos do mundo moderno - e isso por méritos próprios. Para o verdadeiro fã, tudo que eles fizeram – e continuam fazendo, no caso dos dois que ainda estão vivos – interessa. Isso inclui os álbuns e vídeos oficiais, mas também vários, milhares de outros itens que nunca foram lançados oficialmente. De tempos em tempos a questão é lançada: a chamada “pirataria” (comércio de material não-autorizado) é prejudicial ou não?

Para os artistas, ou pelo menos boa parte deles, é apenas prejudicial. Até porque geralmente mostra os bastidores, versões incompletas dos seus trabalhos, fotos e vídeos que eles não gostariam que fossem vistos. Nessa categoria estão músicos como o ídolo maior do Brasil, Roberto Carlos, que nunca permitiu que gravações alternativas suas vazassem e caíssem no conhecimento do povo.

Mas também existem artistas mais “cabeça aberta”, que encararam esses vazamentos como acontecimentos inevitáveis, e até lançaram material dessa natureza oficialmente. Posso citar dois pioneiros, Frank Zappa e Bob Dylan, respectivamente com suas caixas Bootleg Bag e The Bootleg Series. E... os Beatles, que fizeram a “oficialização da pirataria” em lançamentos como The Beatles Anthology e Live At The BBC.

No caso dos Beatles, a palavra “pirataria” sempre soou descabida. Afinal, fã-clubes tradicionais como os brasileiros Cavern Club (do Luiz Lennon) e Revolution (do Marco Antônio Mallagoli) sempre comercializaram esse tipo de material e, tanto eles quanto o público sempre consideraram uma espécie de “arqueologia”. Trata-se de um serviço de informação importantíssimo, já que o interesse em artistas do quilate dos Beatles não cabe apenas nos poucos álbuns e home vídeos oficiais. O fã na categoria hard quer ver e ouvir também aqueles shows que nunca foram lançados, aquelas fotos que não estão nos encartes, quer usar pôsteres e camisetas que o artista nunca lançou, até por questões (falta de) de logística.

Cito como exemplo a última turnê de George Harrison, aquela no Japão com Eric Clapton & banda, em julho de 1992. Apesar de ter sido lançado o áudio em CD, os fãs só puderam ver os vídeos do show através dos “bootlegs”, em gravações feitas em câmeras da audiência. O próprio filme Let It Be só pode ser visto atualmente (pelo menos para 90% dos fãs) através de edições não-autorizadas. Não posso deixar de citar que é sempre um grande prazer rever os shows de Paul McCartney e Ringo Starr que presenciamos no Brasil. Estivemos lá pessoalmente e agora, podemos reviver aqueles momentos em vídeos gravados, editados e distribuídos por fãs.

O Brasil é um país em que a pirataria está em todos os lugares, desde os grandes centros comerciais (como o Brás e a famosa Santa Ifigênia, ambos em São Paulo), em que roupas, calçados e utensílios de fabricação quase caseira são vendidas com marcas famosas. Isso é pirataria. Mas no caso dos Beatles (e de vários outros ídolos do Rock), a palavra é descabida (o certo é falar BOOTLEG!). Pra nós, os milhares de DVDs, discos de vinil, fitas K7 e VHS, camisetas, adesivos e todo tipo de badulaque são mais que bem vindos. São muito mais que diversão ou comércio. Eles preenchem nossa vida com “algo mais” sobre as pessoas de quem mais gostamos nesse mundo. Viva a Pirataria!

Ops... Viva os BOOTLEGS!